Porto e a geminação com Nagasaki

Como os portugueses descobriram… o Japão

Painel da chegada dos portugueses ao Japão, pintado entre os períodos Momoyama e Edo.

Essa é uma das partes da história que ninguém ensina para gente no colégio (como, aliás, toda a história oriental). Mas essa parte da história, em particular, poderia ser enfocada nos livros escolares: a presença portuguesa no Japão nos séculos XVI e XVII.

Mártires de Nagasaki. pintura japonesa sec XVI-XVII

Em 1542-1543 os portugueses chegaram ao Japão, que até então era um país exótico e praticamente desconhecido dos povos europeus. Foram os portugueses, por exemplo, que introduziram no território japonês as armas de fogo, que foram então utilizadas por alguns daimios (algo como os senhores feudais japoneses, leia daimiô) e pelo próprio Xogum (título equivalente ao Chefe Maior do Estado, outorgado pelo imperador) para colocar a dinastia dos Tokugawa no poder.

Tokugawa Ieyasu.

Além disso, Portugal conseguiu, através de manobras políticas, manter o monopólio do comércio exterior do Japão, levando e trazendo mercadorias da China, Filipinas, Índia e outros territórios da região. Como grande potência naval que era, todo o comércio marítimo com o japão era feito apenas por barcos portugueses.


E, como pode-se imaginar, a religião teve um papel importantíssimo nessa história. Missionários portugueses foram aos poucos ganhando confiança do Xogum e dos daimios, e iniciaram o trabalho de catequização dos japoneses, incluindo alguns Daimios importantes.

Sakanoue no Tamuramaro, um dos primeiros xoguns da história.

Porém, nem tudo era festa para os portugueses. A religião católica é radicalmente diferente do budismo e do xintoísmo praticados na terra do sol nascente, assim como os costumes dos nanbam-jin ( 南蛮人)
(bárbaros do sul, como chamavam aos portugueses e, posteriormente, qualquer europeu, já que chegavam ao Japão pelo sul do país), que agrediam as tradições e os costumes japoneses. 

A natureza é kami (ser divino) e o kami é a natureza

Em algumas regiões isso era tolerado, em outras, não. Alguns missionários portugueses foram mortos e tornaram-se mártires da igreja em terras orientais. Em um dos momentos de boa-vontade para com a nova religião (e incentivado pelos enormes lucros obtidos dos acordos com os portugueses),


 o Xogum acabou por ceder Nagasaki aos interesses dos missionários portugueses, que ali estabeleceram uma base comercial e religiosa. Nagasaki é, até hoje, a única cidade do Japão com características urbanísticas portuguesas

A Japanese Nanban byōbu detail depicting a Portuguese carrack arriving at Nagasaki, c. 1571

Vários episódios interessantes são relatados pela história, entre eles a viagem de cinco jovens japoneses, quase todos filhos de famílias abastadas, convertidos ao cristianismo, que foram convidados a viajar a Roma para conhecer Sua Santidade, o Papa.


 A viagem durou 10 anos, contando ida e volta, e os que sobreviveram às péssimas condições dos navios da época, ao retornarem ao Japão, assustados com a barbárie da civilização oriental, tornaram-se samurais.
samurais.

Além de Portugal, Inglaterra, Espanha e Holanda também chegaram às terras dos japoneses. Os espanhóis traziam religiosos a bordo também, o que gerou alguns conflitos sérios. Inglaterra e Holanda estavam interessados apenas no lucrativíssimo comércio dominado pelos portugueses.

(na imagem, uma gravura japonesa do século XVI mostrando os bárbaros do sul (nanbam-jin).

Além das armas de fogo, os portugueses acabaram por introduzir costumes e mesmo nossa língua-mãe na cultura japonesa. Várias palavras do idioma japonês são de origem portuguesa, como pan (pão).


Durante os quase 100 anos que os religiosos europeus permaneceram em terras nipónicas, algumas vezes foram expulsos pelo Xogum, depois readmitidos. Então, cerca de cem anos depois o Xogum expulsa todos os estrangeiros do país (sob pena de morte para os que desobedecem) e fecha o Japão para o resto do mundo.

 O país permaneceu fechado até 1853, quando o comandante Perry, da marinha americana, chega com uma esquadra e exige a abertura do país para o resto do mundo (leia-se: para os Estados Unidos).


Essa história é narrada de forma romanceada no best-seller Xógum, de James Clavell, que fez enorme sucesso na década de oitenta. Apesar de narrar as aventuras de um piloto holandês, Clavell retrata as rivalidades entre holandeses e portugueses.


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